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quarta-feira, 23 de maio de 2018

Ah!!!! o amor.... pra reviver e viver a vida! voltando com "Desconcerto"

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DESCONCERTO
(Martha Medeiros)

Às vezes tenho vontade de rasgar tudo o que li sobre o amor. Picotar teses, ensaios e romances edificantes, ignorar os “pra sempre”, “almas gêmeas”, “dois em um” e outras condensações românticas. Por que nos iludimos tanto? O amor é um sentimento enorme, forte o suficiente para sustentar casamentos, famílias, convenções, mas o que ele é, de fato, em sua gênese? Qual é o estopim do amor, sua fagulha inaugural? O que faz a gente se interessar emocionalmente por um estranho?
A estranheza, por si só, é uma resposta. O enigmático atrai. Aquele que veio sei lá de onde, foi criado sei lá como, e nos fascinou, deslumbrou, encantou: os verbos verdadeiros do amor, esse amor que aqui trato como paixão, arroubo, irracionalidade. O êxtase secreto que corrompe nosso coração, a inclinação injustificada em direção a um alguém qualquer.
A paixão é um lampejo. Uma adorável armadilha. Um desconhecimento que nos liberta de nós mesmos. Não sabemos explicar por quê. Aconteceu.. Foi pelo jeito de andar, pela voz, pela maneira de mexer no cabelo, pelo beijo quente, foi pelo desconcerto que provocou, foi por ter nos dado vontade de fazer o que normalmente não faríamos, foi por subverter este ”normalmente”, foi isso e será sempre isso, mesmo que não dure.
Promovemos paixão a amor para que vire um relacionamento, um noivado, um casamento. Mas essa formatação social leva o amor para um patamar de tabelionato, outro andar da carruagem, logo esquecemos a razão de ele ter iniciado. Seguirá lindo, mas será outra coisa, amor registrado e autenticado em três vias. Amor imperecível, durável - por que alguém perderia o sono por ele, já que eterno?
A paixão nasce da insanidade, da falta de lucidez, da loucura momentânea. É aquele instante em que você sai do bar às três da manhã depois de muita conversa e alguma cachaça e resolve que não pode voltar pra casa, tem que bater à porta da mulher que ama, e vai lá e bate. É aquele instante em que o telefone toca e é seu chefe convocando para uma reunião e você alega uma gripe fajuta porque já decidiu que não pode terminar seu dia sem tentar uma reconciliação com o namorado com quem se estressou ontem à noite. É aquela hora em que você joga no lixo todas as razões sensatas para desistir da relação e, feliz da vida, se deixa devorar pelas imprecisões.
Paixão é tudo que é potente, enérgico e nem um pouco estratégico. Tudo que é natural, impulsivo, sonhador, fantasioso, aquilo que fez você se identificar com os dragões e as bruxas dos contos de fada, mais do que com os príncipes e as princesas. Não tem, nem nunca teve, nada a ver com final feliz, essa falácia.
A não ser o amor modulado para o convencional. Que é outro amor. Outro destino. A maquiavélica vida real.
O amor de que falo aqui é instantâneo, indomável, aquele que você não exige que se adapte e nem o instala numa rotina previsível, porque é isso que o mata.



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