Esses
dias cheguei no meio de uma conversa e ouvi apenas “Ela é uma ladra, roubou o
marido da Fulana”.
Obviamente
fiquei chocada, pois achei que estavam falando de furto, não de
relacionamentos.
Relacionamento
é a ultima coisa que passa na minha cabeça quando falam em roubo, e isso
porque, diferente do que se lê por aí, ninguém rouba uma pessoa da outra.
Pessoas
não são propriedade para ser roubadas.
Somos todos criaturas com livre
arbítrio.
Se
o meu marido decide terminar comigo para ficar com outra mulher, isso tem só um
nome: escolha.
É
um processo meio estranho, isso de começar um relacionamento no meio de outro?
É, mas as vezes acontece.
E, acima de tudo, a mulher não é a grande vilã da
coisa toda, porque meu contrato de afeto é com ele.
Ou seja, se alguém mandou
mal, foi ele.
Claro
que essas coisas são muito mais fáceis de entender na teoria do que na prática,
porque todos temos nossas inseguranças e porque isso pode ser um negócio bem
doloroso. E pra nós, mulheres, esse é um processo especialmente difícil, já que
fomos ensinadas a competir umas com as outras e a projetar muito de nosso valor
em relacionamentos.
E
isso funciona de ambos os lados: tanto de quem acha que foi roubada, quanto de
quem acha que roubou. Porque, sim, eu já conheci mulheres que falavam as duas
coisas.
Ou
seja, além de termos sido ensinadas a olhar pra colega como uma concorrente na
vida, uma rival, também aprendemos a nos olhar como uma mercadoria, um objeto,
que só tem valor agregado (pelo cara, pelo relacionamento, enfim).
Esses
dias, mesmo, estava lendo “Não se apegue, não” da Isabela Freitas e tinha uma
parte onde ela falava (sobre uma amiga) algo como “Acho que fulana não namora
com ninguém porque já ficou com todo mundo da cidade”.
É o velho texto de
mulher para casar X mulher para comer, onde acreditamos que o fato de termos um
relacionamento, termos sido ~escolhidas~, nos torna alguém melhor.
Talvez
Fulana não namore com ninguém porque quer pegar geral. Só isso. Ou porque não
conheceu ninguém massa o suficiente pra ter um relacionamento sério. Sabe lá.
Mas
como fomos ensinadas a ver todas as mulheres do mundo como rivais, a
sexualidade da outra também nos intimida. Especialmente se queremos ser vistas
como “mulheres que se dão ao respeito”. Pensamos que uma mulher sensual só pode
estar querendo nos roubar os maridos, destruir as famílias, etc etc etc.
Quer
uma prova de que esse discurso de competição entre mulheres é incentivado?
(Olhe dentro de si e em sua própria vida)
Mas
eu não estou dizendo que somos umas trouxas por pensarmos assim. Estou dizendo
que desfazer essas ideias já tão arraigadas é um trajeto longo e árduo (mas
necessário), essencialmente porque estamos cercadas de reafirmações dessa
besteirada.
Isso
me lembra uma história real: uma mulher maravilhosa namorava um notório bêbado
e foi alertada de que outra mulher estava tentando roubar seu marido. Então ela
respondeu: “roubar é fácil, difícil vai ser carregar”.
(
ninguém rouba ninguém e que a realidade é bem mais complexa que isso)
(p/Mari, anônima)
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