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quarta-feira, 3 de julho de 2013

O trem, a vida e a solidão...


Hoje resolvi fazer um caminho diferente para chegar ao trabalho, geralmente vou de ônibus, mas hoje resolvi ir de trem.
Aproveitei que o dia amanheceu lindo, raios de sol despontando no céu iluminando ao longe a Serra da Cantareira de um lado e o Pico do Jaraguá do outro.
Uma brisa gelada mostrando o inverno a todo vapor em nossas vidas. Enfim, lá fui eu, em meio a centenas de pessoas embarcar no trem.
Entrei. Nossa, quanta gente!
Passadas duas estações de onde embarco, ficou vago um lugar nesses bancos de dois lugares e sentei. Do meu lado um senhor, aparentando ter mais de 70 anos, pelas rugas, pelas mãos calejadas e cheias de pintinhas da maturidade natural. Sorriu pra mim e retribui. Percebi que o velhinho queria bater papo e como gosto de dar atenção, o deixei falar. Seu nome José, um avô apaixonado, que estava no trem a caminho de Suzano, para visitar o netinho que não vê há 15 dias. Contou que era aposentado e que vivia numa bela casa, confortável e repleta de plantas.
Contou do cachorro “Juan” (com “J” ele me disse) que é seu melhor amigo desde que se separou da mulher.
Me contou que um belo dia, depois de 28 anos de casados, ela chegou e disse que estava indo embora, morar com outro homem (mais novo ele me disse), pois ela queria “viver”, viajar, conhecer lugares ele era muito caseiro. Ele aceitou, pois não poderia deixa-la com ele, sabendo que queria estar com outro.
Sem brigas, nem discussões, na paz devida a viu partir. Isso há mais de 5 anos.
E daí eu perguntei a ele como foi depois disso.
Ele me disse que um belo dia o “Juan” foi abandonado filhote em seu portão, ele o pegou, cuidou e estão juntos até hoje. Pasme, caímos na gargalhada.
Disse que cuidar do filhote foi a melhor coisa que aconteceu. Mas que estava sozinho mesmo, filhos casados, morando longe e sem mulher. Falou com ternura que até preferiu, pois havia perdido a virilidade e a mulher precisava se sentir “viva”. Não ficaram inimigos, pois tinham os filhos, os netos chegando e teriam que conviver bem.
Achei legal quando ele me disse:  - “Na boa, foi melhor assim!”. Ri, pois ele usou um termo que poucos idosos usam.
Rimos juntos novamente.
Daí, me falou algo que me surpreendeu muito. Disse que as vezes quando se sente sozinho, pega o trem, senta e espera alguém pra conversar, pois é um jeito de amenizar a solidão e ele sempre teria um lugar garantido.
Falei que tinha adorado nosso papo, que cuidasse bem do cachorrinho.
Nossa estação final estava chegando.
Eu pegaria o metrô e ele outro trem.
Um aperto de mão quentinho, um sorriso e quem sabe um dia num trem qualquer a gente poderia se reencontrar.
Daí ele me disse: -“Na próxima quero ouvir a sua história”.
Sorrimos, um aceno e cada um para seu lado.
Pois é, cada um vive e aceita as perdas a seu modo, o importante é não deixar de viver.

11 comentários:

  1. Gostei muito do texto e a mensagem.
    É essa sensibilidade, paciência e arte de ouvir que as pessoas deveriam ter pois teriam muito mais amigos.
    Uma bela lição de vida.
    abração com carinho

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  2. Oi Linda
    Você é boa em tudo que escreve. Eu apostei em você e não errei.
    Você escreve o que dita o coração bem diferente do que eu escrevo pois engoli o desengano há muito e não me dou por inteira. Gosto do meu jeito de ser, assim não sofro a dor do amor.
    Um bom trabalho e muito sucesso para você.
    Obrigada Lua Singular

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  3. Maravilhoso texto.
    Encontramos sempre alguém com necessidade de conversar, devemos saber ouvir. Gostei
    beijinho
    http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/

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  4. Lindo conto e mensagem ao final. Precisamos seguir, cada um ao seu modo, olhando diferente, mas sempre pra frente, indo, indo, indo! LINDO aqui! beijos,chica, tudo de bom!

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  5. Lindo o conto e mensagem ao final. Precisamos seguir, olhando pra frente, ainda que diferentes olhares, mais indo, indo, indo! Pra frente caminhando! beijos,sempre lindo aqui! chica

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  6. Histórias de vida, quem as não tem?.

    Por vezes é necessário que nos ouçam um pouco e assim podermos deixar a nossa alma desabafar coisas que estão por dizer.
    Quem sabe se não se voltam a encontrar e o que hoje fou atento ouvinte, nessa vez não será o conversador.

    Fique feliz.
    *******************************
    Gostava que visitassem:

    http://pensamentosedevaneiosdoaguialivre.blogspot.pt/2013/07/silencio-do-teu-olhar.html#comment-form

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  7. Boa tarde!!!!

    Hoje vim agradecer pela amizade
    deixar um elogio pelo post ,obrigado por estar sempre comigo

    Uma frase que gosto;

    Um verdadeiro amigo é alguém que pega
    a sua mão e toca o seu coração.

    ( Gabriel García Márquez

    Bjusss
    Rita!!!

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  8. O trem, a vida e a solidão
    E o cantinha da Ritinha
    Alegre, sem mágoas no coração
    Venho agradecer a tua visitinha!

    Teu cantinho muito lindo
    Estou aqui de visita
    Para te ver sorrindo
    Voltarei aqui noutra dia!

    Boa tarde e um beijo
    para você, Ritinha.
    Eduardo.

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  9. Oi Ritinha!
    Você é um amor moleque, com esse jeitinho de menina e este rosto de mulher apaixonada.
    Obrigada
    Muito sucesso para você, de coração
    Beijos
    Lua Singular

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  10. Oi Ritinha,não sei se é verídico ou ficção,somente sei que é um conto lindo de se ler e aprender a lição daqueles que já possuem uma grande vivência.Parabéns amiga.

    bjs
    Carmen Lúcia-mamymilu.blogspot.com

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  11. Que lindo encontro Ritinha!! Se não tivesse feito o percurso contrário, não teria essa oportunidade de troca tão gostosa.
    E que história é essa que colocou no meu canto que está se sentindo velha com 50 anos!! Vamos acordar por favor e aumentar essa auto-estima!!
    Abraços e se cuida!!
    Sandra

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