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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Ninguém é de ninguém (sobre traição)


Esses dias cheguei no meio de uma conversa e ouvi apenas “Ela é uma ladra, roubou o marido da Fulana”.

Obviamente fiquei chocada, pois achei que estavam falando de furto, não de relacionamentos.

Relacionamento é a ultima coisa que passa na minha cabeça quando falam em roubo, e isso porque, diferente do que se lê por aí, ninguém rouba uma pessoa da outra.

Pessoas não são propriedade para ser roubadas.
Somos todos criaturas com livre arbítrio.

Se o meu marido decide terminar comigo para ficar com outra mulher, isso tem só um nome: escolha.

É um processo meio estranho, isso de começar um relacionamento no meio de outro?
É, mas as vezes acontece.
E, acima de tudo, a mulher não é a grande vilã da coisa toda, porque meu contrato de afeto é com ele.
Ou seja, se alguém mandou mal, foi ele.

Claro que essas coisas são muito mais fáceis de entender na teoria do que na prática, porque todos temos nossas inseguranças e porque isso pode ser um negócio bem doloroso. E pra nós, mulheres, esse é um processo especialmente difícil, já que fomos ensinadas a competir umas com as outras e a projetar muito de nosso valor em relacionamentos.

E isso funciona de ambos os lados: tanto de quem acha que foi roubada, quanto de quem acha que roubou. Porque, sim, eu já conheci mulheres que falavam as duas coisas.

Ou seja, além de termos sido ensinadas a olhar pra colega como uma concorrente na vida, uma rival, também aprendemos a nos olhar como uma mercadoria, um objeto, que só tem valor agregado (pelo cara, pelo relacionamento, enfim).

Esses dias, mesmo, estava lendo “Não se apegue, não” da Isabela Freitas e tinha uma parte onde ela falava (sobre uma amiga) algo como “Acho que fulana não namora com ninguém porque já ficou com todo mundo da cidade”.
É o velho texto de mulher para casar X mulher para comer, onde acreditamos que o fato de termos um relacionamento, termos sido ~escolhidas~, nos torna alguém melhor.

Talvez Fulana não namore com ninguém porque quer pegar geral. Só isso. Ou porque não conheceu ninguém massa o suficiente pra ter um relacionamento sério. Sabe lá.

Mas como fomos ensinadas a ver todas as mulheres do mundo como rivais, a sexualidade da outra também nos intimida. Especialmente se queremos ser vistas como “mulheres que se dão ao respeito”. Pensamos que uma mulher sensual só pode estar querendo nos roubar os maridos, destruir as famílias, etc etc etc.

Quer uma prova de que esse discurso de competição entre mulheres é incentivado?
(Olhe dentro de si e em sua própria vida)

Mas eu não estou dizendo que somos umas trouxas por pensarmos assim. Estou dizendo que desfazer essas ideias já tão arraigadas é um trajeto longo e árduo (mas necessário), essencialmente porque estamos cercadas de reafirmações dessa besteirada.

Isso me lembra uma história real: uma mulher maravilhosa namorava um notório bêbado e foi alertada de que outra mulher estava tentando roubar seu marido. Então ela respondeu: “roubar é fácil, difícil vai ser carregar”.

( ninguém rouba ninguém e que a realidade é bem mais complexa que isso)

 

(p/Mari, anônima)


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